sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Imagens e globalizações (VI)


Proposta de Alexandre Firmino (aluno do Mestrado Risco, Trauma e Sociedade)
Cartaz de Cinema JAWS

Em 1975 Steven Spielberg despertou meio mundo chamando a atenção para o medo que vinha das águas do mar, sob a forma de um gigante tubarão branco que atacava os banhistas que tivessem a ousadia de enfrentar o risco. Spielberg fez de Jaws um dos filmes mais tensos, assustadores e psicologicamente transtornadores de todos os tempos graças em grande parte à inesquecível banda sonora de John Williams, mas também devido à inteligente técnica utilizada pelo realizador que na altura preferiu esconder a presença do tubarão em vez de o mostrar na sua totalidade ao espectador. Na altura, o filme de Spielberg amedrontou e perturbou em grande escala, não porque o tubarão assassino tivesse aparecido de repente, mas sim porque no momento em que deu a sua aparição, nós já estávamos a criar na nossa mente, quer através de diálogos entre as personagens fragmentos de medo e dee suspense. Nunca o cinema tinha conseguido até então, fazer afastar as pessoas da realidade, fazendo uso da imaginação. O medo proposto como abordagem no próprio filme, acabou por se espalhar e gerar discussões e debates á escala mundial como até então nunca se fizera sentir. Pela primeira vez o cinema como instrumento, fazia do uso dda temática do medo, uma consciencialização sobre os riscos globais á escala global. É caso para dizer que assistimos ainda nos dias de hoje a uma forte conciencialização dos riscos tendo em conta que vivemos numa época da globalização do medo, que tal como no cartaz do filme nos sugere: uma perseguição mais feroz sobre o indivíduo por parte de um medo desconhecido que ninguém consegue ver. Neste caso poderiamos sugerir a metáfora do JAWS para nos referirmos á disseminação dos traumas sociais, por parte de uma violência latente a encarnar todo o terrorismo, tal como aconteceu com os atentados do 11 de Setembro de 2001. O que era até aqui visível para toda a gente, incluindo as emoções e o próprio medo, passou a estar como que invisível, à moda de Hitchcock, sem termos a certeza de saber se podemos confiar ou não nos nossos próprios vizinhos, se os nossos computadores em casa estarão seguros, se as nossas contas bancárias estarão firmes e em boas mãos, se os aviões poderão viajar sem cairem, se a não haverá outro abalo financeiro a seguir a esta crise, se amanhã estaremos no desemprego ou não. Ou seja, o filme de Steven Spielberg realizado em 1975 para a Universal, retrata bem o medo e a tensão, pondo a nú a frieza comportamental do público mas ao mesmo tempo marca uma era dominada pela incerteza cada vez maior, onde o medo assume proporções dantescas ao ponto de associar a vida de cada um de nós para uma consciencialização da cultura do medo á escala global, onde as guerras, as doenças, as catástrofes e as epidemias tem um particular destaque na agenda da economia e da política mundial, que nos alertam para os riscos de possíveis desfragmentações no controlo das coisas que nós conhecemos como serem a Ordem das coisas. Vivemos rodeados de imagens que nos estimulam a imaginação. E sem irmos muito longe poderiamos ter como exemplo simples e fugaz de como uma possivel fobia de voar de avião poderá desencadear o medo após os impactos de imagens sobre desastres aéreos. Vivemos numa era da globalização do medo em que somos constantemente bombardeados por imagens que nos estimulam e nos conferem os sentidos da realidade. Assim, poderemos conceber a imagem do medo como um espectro do fragmento que uma realidade poderá transmitir como um todo pela parte. Aqui fica uma sugestão deveras impertinente sobre a globalização do medo, em que vários povos vivem da mesma forma o mesmo problema, independentemente das suas culturas, das suas crenças...

Sem comentários: