sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Imagens e Globalizações VIII

Proposta de Amândio Felício

Esta primeira imagem é a capa de um disco desta banda tuaregue Tinariwen. A imagem propriamente dita, apresenta algumas características que a definem como o reflexo de um tempo multicultural, nomeadamente a presença das guitarras eléctricas, marca de uma ocidentalidade que seria à partida exterior à música tuaregue.Mas para além das marcas aparentes, há a marcar esta imagem, dois aspectos fundamentais: o facto de ser ela própria a capa de um disco, objecto das indústrias culturais por excelência; e o fenómeno da World Music, que enquanto objecto de estudo, é muito revelador do fenómeno da globalização e dos seus fluxos. Com efeito, os Tinariwen conseguiram nos últimos anos um reconhecimento internacional que está relacionado com a ocidentalização da sua música, forma encontrada de penetração nos mercados europeu e norte-americano. Aliada a esta ocidentalização está o exotismo de uma música que mantém um carácter tradicional, do blues norte-africano, e que chama a atenção para a luta política do povo tuaregue contra o governo do Mali. Este exotismo vai de encontro à procura do outro que caracteriza o mundo ocidental globalizado. Também importante é o facto de este tipo de produtos da world music chegarem às mãos ocidentais mediados geralmente por grupos editoriais europeus e norte-americanos, o que acaba por definir onde se encontra o ponto superior do fluxo.

Esta segunda imagem acaba por ser um jogo sobre as representações imediatas sobre o multiculturalismo. Também aqui se encontram presentes elementos diversos que são o reflexo de um fenómeno, nas suas diversas dimensões. O elemento tecnológico, com a Internet enquanto a ferramenta de comunicação da globalização, e aquele que é talvez o seu símbolo maior o Google, enquanto motor de pesquisa global (e não entrando por este campo, é interessante verificar as adaptações localizadas do Google a cada “terreno”). O elemento simbólico com a primeira página de resultados de imagens, resultante da pesquisa da palavra multicultural. No fundo, pretendo com esta imagem fazer um jogo com os clichés da globalização, não apenas representados pelas imagens comummente representativas da globalização cultural, mas pelo próprio Google e pela internet, como elementos dominantes, simultaneamente franqueadores de portas para a informação, e castradores na forma como tornam não-existente, tudo o que se encontrar excluído do seu universo.

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